Nesta cantiga de amor de Johan Soarez Coelho, o narrador recorda um encontro com a sua senhor em que esta o ignorou, não o quis ouvir nem lhe quis falar: não lhe disse mal nem bem. O sofrimento sentido pelo amador foi tal que ele lamenta não ter morrido (tan sen ventura foi que non morri!) já que a morte (mesmo repetida mil vezes) teria sido um sofrimento mais suportável do que o desdém da amada.
Johan Soarez Coelho - “Noutro dia, quando m’eu espedi”
Noutro dia, quando m’eu espedi
de mia senhor, e quando mi-ouv’ a ir
e me non falou, nen me quis oïr,
tan sen ventura foi que non morri!
Que, se mil vezes podesse morrer,
mĕor coita me fora de soffrer!
U lh’eu dizi: “con graça, mia senhor”!
catou-me um pouqu’ e teve-mi en desden;
e porque me non disso mal nen ben,
fiquei coitad(o), e con tan gran pavor
que, se mil vezes podesse morrer,
mĕor coita me fora de soffrer!
E sei mui ben, u me d’ela quitei
e m’end’eu fui, e non me quis falar,
ca, pois ali non morri con pesar,
nunca jamais con pesar morrerei:
que, se mil vezes podesse morrer,
mĕor coita me fora de soffrer!
espedir –despedir; oïr – ouvir; u – quando / onde; mĕor – menor; catar – procurar; quitar – afastar; ca – porque; ende – por isso.
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